Após o dólar chegar a ficar abaixo da casa dos R$ 5,05 durante os negócios nesta sexta-feira, 3, especialistas afirmam que há espaço para o câmbio romper a barreira dos R$ 5 no curto prazo. 

+ Fed mantém taxa de juros nos EUA na faixa de 5,25% a 5,5%, conforme esperado pelo mercado

A baixa no dólar acontece na esteira da divulgação de dados sobre a economia dos Estados Unidos que reforçaram a expectativa de corte nas taxas de juros no país. O movimento acompanha o humor do mercado local após a agência Moody’s melhorar a perspectiva para a nota de crédito do Brasil. Veja cotações.

Agora, especialistas monitoram a volatilidade.

“No patamar atual o dólar precisaria cair cerca 1,40% para chegar nos R$ 5, não é uma variação tão significativa que não possa ocorrer, ainda mais se tratando de cenários de curto prazo e com muita volatilidade como o que tem sido atualmente”, diz Ana Paula Carvalho, planejadora financeira e sócia da AVG Capital.

Para que isso aconteça, um dos principais fatores seria o cenário externo. O mercado deve acompanhar de perto a divulgação dos próximos números de inflação nos Estados Unidos, em busca de pistas sobre os próximos passos do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano). 

“Se a expectativa de corte de juros lá se firmar de uma maneira mais suave até o final do ano, teríamos um real mais valorizado. Isso poderia empurrar o dólar abaixo de R$ 5”, comenta Cristian Pelizza, economista-chefe da Nippur Finance. 

Nesta sexta, foram divulgados dados do mercado de trabalho dos Estados Unidos, no relatório conhecido como “payroll”. Os números indicaram que a criação de vagas desacelerou mais do que o esperado em abril e os ganhos salariais anuais arrefeceram, conforme informou o Departamento do Trabalho.

“Os dados de mercado de trabalho hoje abaixo do esperado foram positivos para o Fed”, diz Guilherme Morais, analista da VG Research, ressaltando, porém, “ainda ser preciso uma sequência de bons dados de trabalho e inflação”. 

“A tese de que a economia está desaquecendo de forma gradual, dando brecha para corte nos juros, é positiva e a percepção de menor risco pode fazer sim que o dólar retorne abaixo de R$ 5”, afirma Morais. 

Danilo Igliori, economista-chefe da Nomad, acredita que uma manutenção do ” cenário moderadamente otimista” do mercado nos últimos dias, tanto no cenário externo quanto interno, “seria compatível com o retorno da taxa de câmbio para próximo dos R$ 5”.

Dúvidas no radar

Além disso, outro ponto de observação do mercado financeiro é o cenário fiscal brasileiro. Nesse contexto, Ana Paula Carvalho aponta um ambiente de fortes incertezas, mesmo após o otimismo gerado com a decisão da Moody’s.

“As incertezas com relação ao nosso cenário fiscal têm feito com que o mercado tenha uma aversão maior para investimentos no país. Todos esses fatores influenciam negativamente no fluxo de moeda”, diz ela.

Por isso, a previsão de dólar abaixo de R$ 5 não é unânime. “Não parece muito provável por conta das restrições externas ligadas ao comportamento dos juros nos EUA, porque a gente acredita que a atividade vai continuar forte”, diz Alejandro Ortiz, economista da Guide Gestão.

Andre Fernandes, head de renda variável e sócio da A7 Capital, chama atenção para outro ponto importante: as perspectivas sobre a entrada de dólares no mercado brasileiro. “Poderemos ver o dólar abaixo de R$ 5 novamente com uma possível inversão do fluxo vendedor por parte do investidor estrangeiro que já atinge mais de R$ 30 bi na nossa bolsa em 2024, e grandes melhorias nas contas públicas. Sem isso, dificilmente o dólar volta para baixo de R$ 5 esse ano.”